domingo, 9 de janeiro de 2011

Crítica: ''A Montanha e o Rio''

A MONTANHA E O RIO
Autor: Da Chen
Da ChenA montanha e o rio
À esquerda, o autor desse maravilhoso romance, Da Chen. À direita, a capa, muito bonita por sinal, da obra lida.


Resenha(retirada da contracapa):
          ''No auge da Revolução Cultural chinesa, Ding Long, um jovem e poderoso general, gera dois filhos. Um deles, legítimo. O outro, nascido de uma jovem camponesa que se atira do alto de uma montanha poucos momentos depois do parto. Tan cresce em Beijing, cercado de luxo, carinho e conforto, ao passo que Shento é criado nas montanhas por um velho curandeiro e sua esposa, até que a morte do casal o leva a um orfanato onde passa a viver sozinho, assustado e faminto. Separados pela distância e pelas condições de vida, Tan e Shento são dois estranhos, que crescem ignorando a existência um do outro.
         ''A montanha e o rio narra a saga desses dois irmãos que trilham caminhos distintos, mas cujas vidas se encontram quando se mesclam inevitavelmente aos acontecimentos que marcam a história política e social da China no final do século XX.
          ''Numa trama repleta de conspiração, mistério e paixão, Tan e Shento se tornam inimigos ferozes tanto no campo político quanto no pessoal, pois, por um capricho do destino, se apaixonam pela mesma mulher, o que contribui para acirrar ainda mais o ódio que sentem um pelo outro''

Impressões:
          Uma incrível mesclagem do real com o imaginário prende a atenção do leitor, que devora o livro. Nesse romance épico e extremamente absurdo - em todos os sentidos da palavra -, Da Chen faz um clichê se tornar algo, embora com alguns erros, espetacular. A imaginação do autor, nos oito anos em que demorou para fazer a obra, provavelmente aumentou mais e mais; o poder desse livro de quinhentas páginas de prender a atenção do leitor é indiscutivelmente muito grande: quem começa a lê-lo, não quer mais parar.
          A narrativa é dinâmica e nada cansativa: trata-se de uma alternância de narradores de primeira pessoa, feita, principalmente, entre Shento e Tan; os irmãos. Todavia, acho que o autor teria conseguido explorar melhor seus pensares se o tivesse feito na terceira pessoa, com um narrador onisciente observador. Embora estivessem na primeira pessoa, os narradores, em vários momentos, pareciam ser oniscientes; abrangendo, pois, um grandíssimo erro, já que um personagem onisciente é aquele que de tudo sabe. Mesmo assim, é magnífico poder ler cada pensamento da distante vida dos irmãos, que, exageradamente, partem para um ponto de encontro; no qual o clímax da obra faz com que aquele(o leitor) quase morra de curiosidade. A forma como o panorama fictício(já que também há o panorama real) é mudado, não tenho palavras para descrevê-la: é simplesmente encantadora, sempre por meio da grande junção do real com o inventado, que, acredito, foi o grande forte do autor nesta obra.
          Se você gosta de exageros absurdamente aceitáveis, vai amar a obra, na qual tudo é exagerado: o nascimento de Shento, cuja mãe atirara-se dum penhasco; o poder político e econômico da família de Tan, que era o maior da China; a forma como o destino muda o até então atual panorama; o amor incondicional que ambos os irmãos sentiram, devido a outra peça do destino, pela mesma mulher - o que parece ser o grande foco da obra, mas que não é. Eu, particularmente, como bom Escorpiano que sou, gosto de exageros, de ápices - oito ou oitenta -, e, assim, gostei muito do romance; se não gostasse de máximos ou mínimos, tê-lo-ia odiado.
          Uma coisa que chamou minha atenção foi, logo no início da obra, como o autor soube misturar contrastes com semelhanças. Como exemplo de semelhança, posso citar o amor que cada um recebeu quando jovem, assim como a atração exacerbada por mulheres, mesmo jovens. Como exemplo de contraste, posso citar a mediocridade da infância de Shento - criado nas Montanhas, por um baba e uma mama adotivos -, e a luxuosa infância de Tan - criado no bairro mais bem valorizado de Beijing, contando, até então, com o apoio do presidente Mao-tse-tung e podendo ter tudo que quisesse.
          Disse, há pouco, que o amor que ambos os irmão passaram a sentir pela mesma mulher não é o foco da obra. Repito, mas agora, justificar-me-ei. Embora seja sim um tema muitíssimo explorado, Da Chen buscou, creio, mostrar mais a China dos tempos da Revolução Cultural em diante do que buscou focar o romance da obra. Pra mim, não ficou algo balanceado: mais e mais o autor mostrou a China como realmente era, e, me parece, esqueceu da categoria da obra, Romance. Não que eu não tenha gostado, vi-me, aliás, dentro de uma aula superinteressante de Geografia e História(a melhor e mais emocionante que já tive, tenho que confessar); a questão é, quem visse o livro nas prateleiras de uma livraria, classificado como Romance, poderia achar que se trata principalmente de uma história amorosa, o que, deixo claro, não é.
          A censura do governo Chinês, sempre resolvendo tudo com violência, com duras repressões, sem a capacidade de sentar e resolver as coisas diplomaticamente: isso foi o foco de Da Chen. Além de mostrar, por meio de fatos que envolvem a família de Tan, a estagnação econômica da Revolução Cultural, Da Chen fez uma crítica explícita às formas de repressões da China; aludindo, certa hora, à Revolta da Praça da Paz Celestial, num momento clímax da obra. O autor mostra como o fim da Revolução Cultural atingiu aqueles cujas famílias eram ligadas ao grande comunista Mao-tsé-tung. Exibe, também, os reflexos da entrada de capitais estrangeiros: tudo por meio de fatos indiretos. Então, para mim, que estudei China a fundo, foi uma leitura surpreendentemente bacana, útil para entender ainda mais sobre como viver uma ditadura vermelha pode ser uma experiência terrivelmente ruim, ou maravilhosamente boa, para algumas poucas pessoas - detentoras do poder. Já alguém mais leigo, que nunca leu nada sobre China, pode achar tediosa toda essa descrição política, que, já falei, é explícita. A censura do governo, o controle sobre a mídia, tudo isso chega a ser visto como atrocidades pelo leitor, que começa a ter raiva do governo comunista mais ditatorial do planeta. A indignação do leitor com a falta de flexibilidade do governo faz com que o leitor passe a amar o irmão que no início da obra era o odiado, o leitor muda sua visão sobre os irmãos, e passa a gostar mais de um do que o outro - poderia falar mais sobre isso, contudo, está-los-ia revelando fatos importantes da obra, então paro por aqui, já que uma boa crítica é feita sem revelar pontos importantes da obra em questão.
          O enredo é interessantíssimo. A forma como Shento e Tan se tornaram inimigos no âmbito pessoal, e mais, no âmbito político; é simplesmente de tirar o fôlego do leitor - na parte boa desta expressão, é claro! Acho, porém, que no final da obra, Da Chen não foi fiel ao passar do tempo até então feito: as primeiras quatrocentos e oitenta páginas seguem mais ou menos um padrão de tempo, à medida que as últimas vinte saem completamente deste padrão, fazendo acontecimentos de extrema relevância passarem de forma super rápida, não muito bem detalhada, prejudicando, assim, o entender da obra, posto que o final de um livro é tão importante quanto todo o resto. As últimas vinte páginas poderiam ter sido escritas, com facilidade, em pelo menos duzentas: criatividade e detalhamento não cansativo é o que não falta pra esse, depois de A montanha e o rio, grande escritor. O final, achei, foi decepcionante.
          Concluo que esse violento Romance pode ser uma incrível viagem sobre os reflexos das situações político-econômico da China da Revolução Cultural ao fim da Guerra Fria, além de uma narrativa impressionante sobre dois irmão, unidos pelo sangue, separados pelo destino, que os une novamente, agora, em guerra. E, embora tenha feito algumas críticas, ressalto que os pontos positivos da obra são mais significativos que os pontos negativos, e, logo, recomendo-a, com toda certeza do mundo !!!
          Pra terminar a crítica da semana, deixo uma questão que caiu na minha prova Trimestral de Geografia, e, destaco, teria-a respondido de uma maneira completamente diferente, depois de ler A montanha e o rio. Peço que pensem novamente nessa questão após terem lido o livro. Era mais ou menos assim. ''JUSTIFIQUE a seguinte afirmativa: 'É uma contradição a China ter um assento no Conselho de Segurança da ONU' ''.

9 comentários:

  1. ficou muito grande mas ficou mt boa a critica
    quero ler

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  2. /\ lucio, nao comente fingindo ser anonimo

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  3. Haha .. claro, Anônimo 2. Assim como fui eu que fiz seu comentário também. Um plano muito bem bolado pra ... ganhar comentário. Hahaha
    Anônimo 1, você achou grande? Poxa hahaah vou tentar fazer uma menor na próxima

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  4. Olá, Lúcio Neto!

    Em primeiro lugar, fiquei muito feliz e muito lisonjeado pelas suas palavras no meu blog (Gato Branco em Fuligem de Carvão ou, simplesmente, Artigos Efêmeros), e agradeço bastante a sua passagem por lá. :)

    Em segundo lugar, eu queria dizer que fiquei surpreso pela quantidade de coisas parecidas em nossas resenhas. Como, por exemplo, o fato de acharmos que o livro ficaria melhor se fosse escrito em 3ª pessoa; ou então o fato de termos achado a história um pouco clichê e, ao mesmo tempo, atrativa e até certo ponto original.

    Li uma coisa no seu artigo que me chamou a atenção: o autor (Da Chen) consegue realmente fazer com que trocamos nossos sentimentos em relação aos personagens principais. No caso de Shento, começamos o livro com pena dele, compaixão, simpatia... e o contrário com relação a Tan. Depois, no final, nossos sentimentos estão totalmente trocados, não é?!

    Por último, queria dizer que a sua resenha não foi, de modo algum, "massacrada" pela minha! rsrs
    Gostei de ler o seu artigo, porque você abordou coisas interessantíssimas.
    Se você permite, eu gostaria apenas de lhe dar algumas dicas... Por exemplo, para que o texto não pareça visualmente cansativo, você pode aumentar a letra da postagem e/ou inserir mais gravuras. Isso dá algumas pausas bem-vindas na leitura e faz o texto ficar mais cheio de vida. :)

    É isso! Grande abraço! Vou pôr o seu blog na lista lateral de links do Artigos Efêmeros. ;D

    Boa semana!

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  5. Caro Marlo,
    Que resposta esplendidamente agradável de se ter haha. Imaginei que seria algo de no máximo três ou quatro linhas, e se fosse. Gostei muito hahaha.
    Então... não precisa agradecer minha passagem pelo seu Blog, eu que tenho que lhe agradecer, li, pelo menos, umas dez postagens, me encantando cada vez mais com seu jeito espontâneo de escrever e suas bem argumentadas críticas. Você se refere à aulas... qual sua idade? Hehe, desculpe-me a inconveniência da pergunta.
    Haha, depois que li seu artigo também gostei muito de ver as semelhanças; foi um dos poucos(depois de pronto, busquei a fundo na Internet trabalhos da mesma obra, é sempre bom uma comparação saudável) que, assim como eu, não apenas elogiou o foco narrativo da obra, e achou que ficaria melhor se fosse na terceira pessoa.
    Pois é, rapaz, eu também fui assim: não queria comentar na crítica, pra não estragar a surpresa, mas falar aqui tudo bem, já que os comentários quase nunca são lidos; no início eu torcia para que Shento se desse bem e Tan sofresse um pouco, e no final foi exatamente o contrário. Achei incrível essa mudança de opinião, provavelmente calculada meticulosamente pelo autor.
    Por fim, fiquei grato pelas dicas que me deu, e, pode ter certeza, vou usá-las na próxima crítica, que deve ser do livro ''O livro de Ouro da Mitologia'', já leu?
    Bem, acho que falei demais ... não quero te cansar. haha,
    Abraços

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  6. oi lucio, andei fuçando seu orkut e li essa sua resenha! li por ai que vc sofreu com as provas do sinéder. fiquei imprecionada pq vc escreve super bem, parabeens!

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  7. qual é o próximo livro sr.LUCIO?

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  8. Oi anônimo ... haha, sofri demais com Sinéder, e se escrevo assim hoje, foi exatamente por causa dele, mas eu não diria ''bem'', meu vocabulário é muito pobre. Haha, tenho que ler muito ainda ...
    Babi Coelho, o próximo livro é O futuro da humanidade, de Augusto Cury, Sra.

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  9. eu fui meio burrinha no meu ultimo comentario, retiro meu imprecionada! to meio fora da linha com essas ferias. ai que vergonha! impressionada seria o certo.. mas relaxa. o 1º ano no csa é bem pior.. haha, e portugues principalmente..a fisica assusta o ano todo muita gente, mas acaba q as maiores bombas e recus sao em port. nao to querendo assustar nao. é so um conselho!

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Seja legal hahaha.